O Berço de Civilização Ocidental |
Construiu casas e adquiriu haveres; em lugar de uma eterna caça pela comida, fixa-se num trabalho regular e periódico para obter o alimento. Conseguia armazená-lo. Começara para ele o trabalho. De refeições que eram felizes descobertas e aventuras excitantes, havia chegado à regularidade das horas de comer. Deixara de ser o animal de acaso; transformara-se no animal económico
De todos os mamíferos, o homem foi o único que se tornou um animal económico.
A maior parte das tarefas penosas recaía sobre as mulheres. O homem primitivo nada sabia decavalheirismo. Se havia necessidade de mudança de residência, as mulheres e as meninas carregavam o pouco ou o muito que havia a carregar, os homens marchavam livres e leves, apenas com as armas, prontos para qualquer eventualidade. O cuidado das crianças e feridos era obrigação exclusiva das mulheres.
Admite-se como provável, que a mulher, é que, descobriu a agricultura. A apanha de sementes e vegetais para alimentação era por certo, trabalho dela, enquanto o homem andava à caça.
Terá sido a mulher a observar que as sementes cresciam nos locais dos antigos acampamentos. Daí até lançar conscientemente as sementes à terra seria um passo. Fizeram-no, talvez, como oferenda aos deuses, para que no regresso para novo acampamento, lhe fosse restituído, cem por um. Talvez a associação com sacrifícios humanos datem dessa época, talvez matassem um homem para ficar a guardar as sementeiras. Este tipo de alimento era, provavelmente, um suprimento acessório à alimentação habitual (frutos silvestres e caça).
O berço da civilização ocidental _6000 a 4000 AC.
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O cultivo da terra não é civilização. É o estabelecimento do homem sobre uma área continuamente possuída e cultivada, vivendo em construções continuamente habitadas, com uma regra comum e uma cidade ou cidadela, também, comuns.
A primeira condição necessária para uma real fixação dos homens neolíticos; seria, naturalmente a existência de recursos: água permanente, pastagens para os animais, alimentos para eles próprios e de material de construção para a habitação.
Deveria haver tudo o que necessitassem em qualquer das estações, e nenhuma carência ou falta que os tentasse a prosseguir na sua existência erradia. Ora tal era a situação de muitos vales europeus e asiáticos. Ex: as habitações lacustres da Suíça onde o homem se fixou desde remotíssima época. Mas de todas as regiões por nós conhecidas, em nenhuma se encontravam condições tão favoráveis, e se mantinham tão constantes ano após ano, como no Egipto e entre o curso superior do rio Eufrates e do Tigre e o Golfo Pérsico.
O BERÇO DA CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL 6000 A4000 ac. |
Nada faltava a essas regiões: terra fértil, água perene e abundante, sol luminoso e permanente; as colheitas, certas e seguras, ano após ano; diz Heródoto, “O trigo produzia duzentos por um”; Plínio informa que: “ceifado duas vezes, aparte subsistente constituía boas pastagens para ao carneiros; havia palmeiras abundantes e grande variedade de frutas; quanto a material de construção, o Egipto dispunha se barro para modelagem e de pedras facilmente trabalháveis, a Mesopotâmia, de um barro que ao calor do sol, se tornava rijo como um tijolo
Em tais regiões, os homens haviam de deixar a sua vida errante e se fixar quase involuntariamente, multiplicar-se, e descobrir que, se numerosos, ficavam a salvo de qualquer ataque ou assaltantes casuais.
Mas enquanto nestes vales férteis os homens se enraizavam, nas terras menos férteis e desfavorecidas da Europa, nos desertos da Arábia, nas pastagens periódicas da Ásia Central, desenvolvia-se uma população menos densa de gente ativa e inteiramente divergente, os primitivos povos nómadas que viviam e vivem livre e perigosamente. Eram em comparação com aqueles pessoas magras e famintas. Lutavam constantemente pelas suas pastagens contra famílias hostis.
Não se deve supor, com efeito, que na vida da humanidade uma fase nómada tenha precedido uma fase sedentária.
Era inevitável que os povos nómadas e sedentários se chocassem, que os nómadas parecessem bárbaros e rudes aos povos sedentários, e estes moles, efeminados e bons para serem pilhados aos povos nómadas.
Estabeleceram-se fronteiras de lutas que raramente eram ultrapassadas, os povos sedentários tinham a vantagem de ser mais numerosos e organizados. Por vezes estes conflitos podiam prolongar-se por várias gerações.
Mas de quando em vez os povos nómadas venciam nestas guerras de conquista, e em vez de carregar os despojos de guerra fixavam-se na terra conquistada e a população era reduzida à servidão e obrigada a pagar tributo. Os chefes nómadas tornavam-se reis e príncipes. Estabelecidos, não se transformavam de todo em sedentários. Aprendiam muitas das artes requintadas dos conquistados, deixavam de ser famintos e magros, mas, através de muitas gerações, conservavam os traços dos velhos costumes nómadas. Caçavam e compraziam-se em desportos ao ar livre, celebravam corridas de quadrigas e consideravam o trabalho, especialmente o trabalho agrícola, como o quinhão de classes inferiores.
Faz-se nas postagens que se seguirão neste Blog uma exposição sumária de algumas civilizações primitivas.
Fonte: H.G. WELLS
História Universal primeiro volume
Coimbra, Setembro de 2012
Carminda neves
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