segunda-feira, 26 de novembro de 2018

FILOSOFIA PIRRO E O CEPTICISMO




 O ORIENTE, PIRRO, OS MÉGARICOS
O nascimento da filosofia, na Grécia, é um acontecimento absolutamente original na história do homem. A novidade sem precedentes está nessa procurada verdade que é a Epistéme, ou seja, a dimensão irrefutável na qual se manifesta a totalidade do ente. É nesse sentido pleno da verdade e do ente que não se encontra nas grandes formas da sabedoria que no Oriente, precedem a filosofia grega (sobretudo os Veda e as partes mais antigas do Antigo Testamento) ou que são contemporâneas do nascimento da filosofia (como o Budismo na India, Lao-tsé e Confúcio na China, Zaratustra no Irão).
   Mas tudo isto não significa também que a filosofia grega não mantenha e desde as suas origens e desde as suas origens, relações com a sabedoria oriental. A relação crítica da filosofia com o mundo não se esgota na relação com o mito grego. Mais ainda, as grandes formas religiosas do Oriente fazem sentir a sua presença no próprio conteúdo da filosofia grega. Foram por exemplo, salientadas as convergências entre o Pensamento de Parménides e os Veda (ou seja que se encontram na base do bramanismo, do hinduísmo e do budismo). Em ambos os casos, o mundo é considerado como uma ilusão relativamente à absoluta simplicidade do Uno. Mas o Uno de Parménides é o Ser, sendo Parménides que pela primeira vez salienta o sentido explícito do Ser e do nada, pelo que a consonância entre Parménides e o pensamento Oriental continua a ser uma analogia cheia de ambiguidades.
Na segunda metade do século IV a. C., Alexandre atinge a Índia. A partir desse momento, o pensamento e a civilização do Oriente não mais crescem independentemente das categorias do pensamento grego. A expedição de Alexandre é a prefiguração do domínio que a civilização ocidental hoje estendeu a todo o planeta.
Mas é também verdade que a expedição de Alexandre fomenta, como nunca antes se verificara, a presença do Oriente no mundo grego (e portanto a captação do Oriente por parte da civilização grega). Pirro de Elis, considerado o fundador do ceticismo, toma parte na expedição de Alexandre ao Oriente. E em Pirro a sabedoria védica une-se ao pensamento de Parménides. Um encontro que volta a propor uma vez mais essa escola megárica (ou seja, essa síntese que os megáricos estabeleceram entre Parménides e Sócrates), com a qual Platão e Aristóteles se haviam empenhado a fundo. Isto significa que Pirro, tal como Cícero salienta, não é o pai do ceticismo, embora tenha sido considerado tal pelos autênticos céticos, alguns dos quais (Enesidemo e Sexto Empírico) vários séculos posteriores a Pirro.
 FONTE: A FILOSOSIA ANTIGA; Emanuele Severino. Edições 70 1984; capitulo XI
COIMBRA, NOVEMBRO DE2018
Carminda Neves