terça-feira, 30 de agosto de 2011

A HUMANIDADE

O sentido da expressão «raças da humanidade», que ainda hoje é, frequentemente utilizado sem as devidas reservas, devia ser muito bem pensado, antes de ser atirado ao vento por dá cá aquela palha.

WELLS
O homem tão largamente disseminado pela terra, sujeito a grandes diferenças de clima, consumindo alimentos diversos nas diversas regiões e atacado por diferentes inimigos, deve ter sofrido, como espécie, um processo de consideráveis modificações locais. A tendência do homem, como qualquer outra espécie de coisa viva, foi constantemente a de se diferenciar em várias espécies; onde quer que um grupo humano se tenha separado, devido às condições e evolução do globo terrestre, a humanidade, logo começou a desenvolver características próprias, especialmente adaptadas às condições locais. Mas o homem é por natureza um animal errante e empreendedor, para o qual há poucas barreiras intransponíveis. Os homens imitavam os homens. Os homens guerreavam e venciam os homens. Cruzavam-se e misturavam-se de povo para povo. Durante milénios houve assim duas forças antagónicas em concurso, uma que tendia a separá-los numa multidão de variedades locais, e outra que fundia e misturava essas variedades, antes que a nova espécie se estabelecesse.
No passado estas duas forças devem ter oscilado, numa e noutra direcção, dentro de um equilíbrio relativo. O homem paleolítico, por ex: deve ter sido bem mais errante que o homem do neolítico posterior; estava menos fixo, era caçador, mudava-se conforme as temperaturas da terra, deve ter-se misturado tão largamente, que pouco se pode desenvolver.
O aparecimento da agricultura contribuiu para prender as comunidades às regiões mais apropriadas ao seu desenvolvimento, e, assim contribuir para a diferenciação.
A mistura e a diferenciação não dependem de níveis mais altos ou mais baixos de civilização; muitos povos erram ainda hoje pelos vários continentes através de centenas de quilómetros, enquanto que na sua maioria, muitos povos da Europa, pelo contrário, nunca foram nem eles, nem os seus pais, nem os seus avós antes deles, além de uma dúzia de quilómetros além da sua aldeia.
O facto de os despojos paleolíticos descobertos por toda a parte serem surpreendentemente iguais confirma, que o homem cobria e se distribuía, disseminadamente, é certo, mas uniformemente, pelo Mundo.

A HUMANIDADE E SUAS RELAÇÕES
 Fases de disseminação e de entre-mistura alternaram, possivelmente, com as fases de fixação e especialização da Humanidade.
A espécie diferenciou-se nesse período em grande número de variedades, muitas se fundiram com outras e sofreram diferenciações, outras se extinguiram.
Os povos da Ásia Oriental e da América, têm pele amarelada, cabelos negros e escorridos, maçãs do rosto salientes. Os povos da África, ao sul do Saará, têm a pele negra, o nariz achatado, lábios espessos e cabelos crespos.
Ao norte e oeste da Europa, grande número de povos têm cabelos claros, olhos azuis e a tez avermelhada ou rósea; em torno do Mediterrâneo, prevalecem os povos de tez branca, olhos pretos e cabelos pretos. Estes povos brancos-morenos parecem constituir a massa central humana, a qual passa insensivelmente, de norte a sul, de leste a oeste do planeta com algumas diferenciações; alguns têm cabelos lisos, outros ondulados, ainda claros, pretos, castanhos; a cor dos seus olhos também varia; podem ser pretos castanhos, azuis, verdes; a sua pele pode ser mais clara, ou mais escura, mais bronzeada, (sul da Índia) ou mais amarelada, (conforme nos dirigimos para leste).

TODOS DIFERENTES TODOS IGUAIS
 Deve-se, porem, recordar, que isso; são generalizações demasiado largas.
Os mais antigos povos foram possivelmente, todos escuros ou negros. A cor clara parece ser coisa relativamente nova. Não se deve supor que os seres humanos da Ásia se estivessem todos a diferenciar numa direcção, os seres humanos da África, noutra. Parece que havia, é verdade, grandes correntes, grandes tendências uniformes, mas havia também refluxos, redemoinhos, misturas, remisturas e extravasamentos de uma área para outra. Um mapa colorido do Mundo para mostrar as “raças” não apresentaria apenas quatro grandes áreas de cores diferentes; teria de se passado e repassado por uma porção de tintas e tons intermediários, simples aqui, misturados e sobrepostos além.
No período Neolítico primitivo – o Homo Sapiens – estava em processo de diferenciação em todo o mundo, e já se teria diferenciado, talvez, em certo número de variedades, mas nunca chegou a diferenciar-se em espécies diversas. A única, outra espécie de Homo, a Neandertal, foi extinta antes que a História começasse.
Uma «espécie» deve-se recordar, na linguagem biológica, distingue-se de uma «variedade», peio facto de que as variedades podem cruzar-se entre si, enquanto as espécies, ou não o podem, ou, se o podem, dão seres, como a mola, híbridos e estéreis. Toda a Humanidade pode cruzar-se livremente. Pode aprender e entender a mesma linguagem e pode adaptar-se à cooperação. Na fase presente, o Homem já, provavelmente, não está a sofrer nenhuma diferenciação. As tendências para a nova mistura são, actualmente mais fortes do que a diferenciação. Os homens entrelaçam-se cada vez mais.

DIFERÊNÇAS ENTRE POVOS «RAÇAS»?

CAUCÁSICO EUROPA


Só recentemente os homens começaram a ser encarados como uma variedade, e a essa luz como um feixe de diferenciações decentemente paralisadas ou ainda em progresso. Antes, os estudiosos da humanidade, influenciados, consciente ou inconscientemente, pela história de Noé, da arca e dos seus três filhos: Sem, Cam Jafé, tendiam a classificar os homens em três ou quatro grandes raças, e a considerar tais raças como tendo sido sempre distintas e descendentes de antepassados originalmente diversos. Ignoravam as grandes possibilidades de fusão de raças, de isolamentos locais específicos e de variações. A classificação variou consideravelmente, mas prevaleceu sempre a ideia de que a Humanidade devia ser completamente divisível em três ou quatro grupos principais. Há, sem dúvida, quatro grupos principais; cada qual é, porem, uma miscelânea, e existem pequenos grupos que não cabem em nenhum dos quatro.

NEGRÓIDE ÁFRICA
 Sob estas reservas e compreendendo claramente que, ao falar-se de grandes grupos, não significam raças puras e simples, mas grupos de raças, tem a antiga divisão certa utilidade. Nas áreas europeia, mediterrânica e da Ásia Ocidental, encontram-se, e encontravam-se durante milhares de anos, povos brancos, geralmente chamados Caucásicos ou caucasianos, subdivididos em três grupos, os loiros do Norte ou nórdicos, os alpinos, (grupo intermediário que tem gerado muita polémica e dúvidas) e os brancos morenos do Sul, os ibéricos ou mediterrânicos; na Ásia Oriental e na América predomina um segundo grupo, os Mongóis geralmente de cor amarelada, cabelos pretos e lisos e corpos atarracados; na África, os Negros ou negróides, na região da Austrália e Nova Guiné os Australóides. Esses termos são úteis desde que se tenha em mente que não são termos com definição precisa. Representam, apenas, as características comuns de alguns grandes grupos de povos; deixam fora diversos, outros povos que não pertencem exactamente a nenhuma daquelas divisões, e esquecem a perpetua mestiçagem em que os grandes grupos se fundem

 A separação de povos em subdivisões principais, depende do valor que se atribui a certas diferenças no esqueleto, principalmente ao formato do crânio.
Há referências constantes de povos de crânio redondo (braquicéfalo) e de crânio longo (dolicocéfalo). Nenhum crânio visto de cima é completamente redondo, mas alguns são mais oblongos do que outros: quando a largura de um crânio é igual a quatro quintos, ou mais, do seu comprimento de trás até à fronte, esse crânio é braquicéfalo; quando a largura é menos de quatro quintos do comprimento, o crânio é dolicocéfalo.

MONGOL CHINA
 Para algumas escolas isto tem importância primordial, para outras a importância é apenas secundaria. Parece que os formatos de crânio de um povo podem, variar em poucas gerações.

OS POVOS MORENOS
A divisão ibérica ou mediterrânica dos povos caucasianos ocupava uma área mais larga, nos tempos primitivos.
É muito difícil definir-lhe ao Sul, os limites com os povos negros, ou separar os seus traços primitivos na Ásia Central dos traços primitivos dos mongóis.
«Algumas escolas suspeitam de uma origem comum aos Egípcios e Dravídianos da Índia, até à Península Ibérica nos tempos mais primitivos». Esse grupo de povos morenos e bronzeados; terá ido mesmo, além da Índia esses homens alcançaram, as praias do pacífico e foram por toda a parte, os detentores originários da cultura neolítica e os iniciadores do que se chama civilização. É possível que esses povos morenos fossem, por assim dizer, os povos básicos do nosso mundo moderno. Os povos nórdicos e mongólicos talvez tenham sido os ramos do Noroeste e do Nordeste, desse tronco fundamental. Mas os povos nórdicos podem, também, ter sido um ramo de tal tronco enquanto os mongóis, como os negros, podem ter constituído um tronco distinto com o qual os povos morenos se encontraram e se misturaram!..... Há muitas questões que se podem colocar e permanecer assim por muitos anos.

CAUCÁSICO MEDITERRANEO
 Os esqueletos do Homo Sapiens encontrados na Europa eram diferentes.
Os ossos Grimaldi tinham traços negróides. Os ossos Cro-Magnon, aproximavam-se mais dos Índios (Américas). É possível que dois povos principais errassem sobre as mesmas áreas. Uma, proto-amarela-branca, e outra, proto-negróide.

A CHAMADA CULTURA «HELIOLÍTICA»
O desenvolvimento peculiar da cultura neolítica a que alguns autores chamam heliolítica «pedra de sol» incluía muitas ou todas as seguintes práticas antigas:
Circuncisão
O estranho costume de ir o pai para a cama quando uma criança nascia, conhecido como a couvade (gravidez ou dor simpática o homem sente todos os sintomas da gravidez, e dor do parto, da mulher).
Prática da massagem.
Mumificação.
Monumentos megalíticos (ex:Stonehenge) Monumento de pedra situado em Inglaterra.
Deformação artificial da cabeça das crianças por ataduras.
Tatuagem.
Associação religiosa do sol e da serpente.
O uso do símbolo conhecido como a cruz suástica.
Parece que essas práticas se distribuíram, como uma constelação, sobre a grande arca mediterrânica, índia e oceano Pacífico. Onde ocorre uma, ocorre a maioria delas. Ligam a Inglaterra com o Bornéu e o Peru. Não floresce contudo entre os povos mongólicos ou nórdicos, nem se estende para o sul além da África equatorial.
Muitos dos povos das Índias Orientais, da Melanésia e da Polinésia encontravam-se, ainda, na fase heliolítica, quando foram encontrados por navegadores europeus no século XVIII. A primeira civilização do Egipto e do vale do Eufrates-Tigre desenvolveu-se, segundo todas as probabilidades, directamente desse fundo de cultura. Assim como a civilização chinesa, os nómadas semitas e do deserto da Arábia.

OS ÍNDIOS DA AMÉRICA
As populações aborígenes da América pertenciam possivelmente aos povos mongólicos e parecem ter alcançado esse continente pelo estreito de Bering, numa primitiva fase neolítica de cultura. (Há ainda um tráfego de barcos de pele entre os dois continentes)?

MONGOL AMÉRICA
 Se de facto esses elementos mais recentes penetraram na população americana, não levaram consigo o cultivo do trigo ou, se o levaram perderam-no posteriormente. O milho do novo mundo é uma planta inteiramente diferente de qualquer outra conhecida no velho mundo. Mas a vida religiosa dos povos americanos apresenta a mesma associação da ideia de semear com a de sacrifício humano que prevaleceu no velho mundo durante todo o período neolítico.
Nas florestas tropicais, os Índios americanos tornaram-se caçadores. Mas, numa ou duas regiões férteis desenvolveram uma ordem social mais complexa, praticaram a irrigação, erigiram importantes construções de pedra, adornadas com esculturas e altos-relevos de desenhos altamente convencionais, fundaram cidades e impérios.

FONTE: WELLS Herbert George
             THE OUTLINE OF HISTORY
             1º VOLUME pags: 133, 144

COIMBRA, AGOSTO DE 2011
CARMINDA NEVES

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