segunda-feira, 15 de julho de 2013

A UNIVERSIDADE DE COIMBRA SÍMBOLOS, DISTINÇÕES E CERIMÓNIAS ACADÉMICAS



REI D. DINIS
As Universidades medievais europeias surgem ou à margem do poder ou por estatuição da autoridade pontifícia ou imperial, por vezes associadas no ato da sua criação.
No que respeita à Universidade de Coimbra, que se confunde com os primórdios da Nacionalidade, há três documentos de importância capital relativos à sua fundação.

O primeiro é a súplica, de que infelizmente só conhecemos traslado, dirigida ao Papa Nicolau IV, em 12 de Novembro de 1288, assinada pelos abades dos Mosteiros de Santa Maria de Alcobaça, de Santa Cruz em Coimbra de S. Vicente em Lisboa e ainda por diversos superiores de 24 Igrejas e conventos do reino.

O segundo documento é o da própria fundação de 1 de março de 1290 e assinado em Leiria por El-Rei D. Dinis, particularmente sensível as letras, porque poeta e neto de Afonso X rei de Castela “o sábio”. A esposa do Monarca português, Isabel de Aragão, a futura Rainha Santa, aparece em vários documentos apresentando súplicas a favor dos escolares.
PAPA Nicolau IV
O terceiro documento é a Bula de Nicolau IV, exarada em Orvieto a 9 de agosto do mesmo ano de 1290, que reconhecia o estudo geral e autorizava a concessão pelo cancelário, que era o bispo diocesano do ius ubique docendi”, ou seja, a aptidão para ensinar em toda a parte. Pelo referido documento conhecem-se as faculdades que integravam o estudo geral: Artes, Direito Canónico, Direito Civil e Medicina. A faculdade de Teologia era excluída, em virtude do seu ensino estar reservado aos conventos Dominicanos e Franciscanos e à Universidade de Paris, passou a fazer parte do nosso ensino só por volta de 1400.


REI D. JOÃO III
A localização do estudo geral foi em Lisboa no bairro de Alfama em 1290. O rei assim decidiu devido à polémica gerada entre o bispo emissário do rei e o abade de Santa Cruz em Coimbra, ambos queriam o topo do mandato, um porque representava o soberano, o outro porque mandava no mosteiro, este último depois de muita polémica disse: “no mosteiro de S. Cruz não haverá nunca uma Universidade”. Ganhou! A Igreja mandava mais que o rei… Foi uma pena porque todos os mosteiros da rua da Sofia (sabedoria em grego) que estavam preparados para receber o novo estabelecimento de ensino se ficaram por simples mosteiros, o abade continuou a sua missão, o bispo foi enviado para Leiria pelo rei, por lá lhe arranjou um cargo. Em 1308 mudava-se para a alcáçova Real (Passos Reais cedidos pelo Soberano) em Coimbra, edifício conhecido nos meados do séc. XVI de estudos velhos, entre 1338 e 1354 volta a Lisboa, e a Coimbra entre 1354 e 1377, regressa à capital de 1377 a 1537, tendo recebido então novas instalações, dadas pelo Infante D. Henrique, em 1537 foi definitivamente transferida para Coimbra por D. João III, atendendo à maior serenidade existente na cidade do Mondego, mais adequada à reflexão e ao estudo.

A leitura dos três documentos leva-nos à conclusão que os estudos gerais já funcionavam há muito tempo em Portugal, mas devido às não boas relações dos reis anteriores a D. Dinis com o vaticano é lhes negada a autorização para a fundação de uma Universidade.
Em Coimbra já fora criado em 1131 o Mosteiro dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, graças a D. Telo, arcediago da Sé de Coimbra, a D. João Peculiar, Mestre- Escola da mesma catedral, e ao próprio Rei, D. Afonso Henriques, do qual Mosteiro foi primeiro prior S. Teotónio tendo nele estudado, entre muitos outros, SANTO ANTÓNIO.

Também a Sé velha, tesouro precioso de estilo românico, edificada no tempo do rei conquistador, era um grande centro de cultura através da sua Escola Catedralícia (1094),o mosteiro do Lorvão também centro de ensino, como aliás acontecia com as suas congéneres nacionais e estrageiras.

                     SÍMBOLOS, DISTINÇÕES E CERIMÓNIAS ACADÉMICAS

São símbolos da Universidade de Coimbra o selo, a bandeira e o hino.
O Selo representa a Sapientia coroada, em pé, com um livro aberto na mão esquerda e um cetro terminado em esfera armilar na direita. No chão encontram-se alguns livros e ainda um crivo, do lado direito, e um mocho do esquerdo. Este conjunto está enquadrado por um pórtico gótico e tem à volta, na metade inferior, a legenda “Insígnia Universitatis Conimbrigensis”.

SAPIENTIA
As cores do selo são: verde para a reitoria e suas dependências imediatas, azul-escuro para a Faculdade de letras, vermelho para a de Direito, amarela para a de Medicina, azul claro e azul claro e branco para a de Ciências e Tecnologia, roxo para Farmácia, vermelho e branco para a de Economia, cor de laranja para a de Psicologia e Ciências da Educação. Hoje as faculdades são muito mais do que as que deram origem à Universidade e as cores foram-se multiplicando. Hoje terá cerca 30 000 a 50 000 mil estudantes nesta Universidade.
Estas cores são visíveis nos trajos cerimoniais usados pelos catedráticos nos vários atos protocolares realizados pela Universidade. Os estudantes usam fitas com as cores acima descritas conforme as faculdades, que frequentam, nas suas pastas pretas.

As Faculdades, a Biblioteca Geral, o Arquivo e a Imprensa da Universidade podem utilizar, além do selo descrito, os emblemas ou selos brancos que lhes sejam próprios, desde que aprovados pelo senado.
A bandeira tem ao centro o selo da Universidade, de cor verde, em relevo, sobre fundo branco.

A Universidade tem hino próprio, que se toca nas cerimónias solenes.

TORRE DA UNIVERSIDADE
O doutoramento honoris causa é a mais alta distinção conferida pela Universidade, sendo a respetiva concessão feita pelo senado, sob proposta das Faculdades, aprovada por maioria de dois terços do conselho Científico.

A medalha honorífica da Universidade é atribuída pelo Reitor, por sua iniciativa ou proposta do senado, destina-se a galardoar pessoas ou instituições que tenham prestado relevantes serviços à Universidade ou que se tenham distinguido por méritos excecionais.
O dia da Universidade de Coimbra celebra-se a 1 de março
 
                     ADMISSÃO E TRAJOS ACADÉMICOS DE ALUNOS E PROFESSORES
O percurso universitário do lente (professor universitário; professor catedrático; aquele que lê; do latim legente) começava após a conclusão dos estudos universitários. Este iniciava-se pela matrícula na faculdade que pretendia cursar. Para ser autorizado a matricular-se na faculdade da sua escolha, era preciso que tivesse uma idade mínima que variava de uma faculdade para outra, mas que se situava entre os 14 e os 18 anos. Devia ter aproveitamento nos estudos preparatórios, comprovado por certificados dos respetivos professores e por exames de admissão, e era também obrigado a apresentar certidões de batismo e de bom comportamento moral e cívico. Fazia juramento de obediência ao reitor e estatutos da Universidade. Ficava assim a pertencer à corporação universitária, e sujeito ao foro académico, privilégio que só acabou com o liberalismo. Durante o seu percurso universitário era sujeito a várias provas, tanto escritas, como orais e práticas, culminando no seu final com exames expostos ”solida, erudita, e elegantemente” de sorte que quem ouvir a lição fique convencido da genuína sabedoria do examinando.
TRAJO ACADÉMICO DO ESTUDANTE
   


trajo académico do estudante
O trajo académico do estudante assinalava-o como membro do corpo discente da Universidade. Até à eclosão do regime liberal, manteve-se o hábito talar (comprido até aos calcanhares) de feição clerical, (da Igreja) que incluía um calção preto, afivelado abaixo do joelho, meias pretas e sapatos de fivela de prata marchetada, e um mantéu (capa) talar preto, com gola larga e bandas dobradas na frente, seguro sobre o peito com um cordão de borlas. Na cabeça usava um gorro preto ou um barrete tricórnio. O trajo académico foi-se laicizando pouco a pouco e a partir de 1910 deixou de ser obrigatório o seu uso quotidiano. Hoje cinge-se a fato, capa e batina pretos usando-se apenas em cerimónias académicas ex. queima das fitas. O trajo universitário tem pois herança religiosa, pois era nos mosteiros e conventos que se ensinava, era aí que existia a intelectualidade, era pela igreja, que a mesma era transmitida ao povo, daí o alto nível de analfabetismo existente entre os povos.

                            O GRAU DE DOUTOR
É a ultima, e maior honra, a que nas universidades pretendem chegar os que nelas estudam. “Por isso é conveniente que se não negue a quem o tiver justamente merecido “assim dizem os estatutos Pombalinos.

CAPELO, BARRETE E BORLA
O cerimonial de doutoramento decorria da seguinte forma: o doutorando era acompanhado solenemente do terreiro de Santa Cruz até à capelada universidade, onde era celebrada missa, finda a qual o cortejo seguia para a Sala Grande dos Atos. Assim se continuava a tradição dos estatutos velhos (1654), segundo os quais os cortejos iam, quer para Santa Cruz (teologia e medicina), quer de Santa Cruz para as escolas e capela (cânones e leis). Após 1834, o cortejo partia da atual praça Marquês de Pombal, e mais tarde passou a sê-lo da Biblioteca Joanina. O Reitor, o Padrinho, os lentes e os doutores com as suas insígnias. O doutorando vinha com capelo (espécie de capa usada pelos doutores como insígnia, nos atos solenes; insígnia distintiva reservada aos cardeais; mais uma vez a herança religiosa na universidade) de veludo da cor da respetiva faculdade (descritas acima), de cabeça descoberta, à mão esquerda do Reitor, ficando do outro lado o Padrinho. Seguia-se o pajem do doutorando, com uma salva em que iam o barrete (espécie de carapuça sem pala; cobertura quadrangular usada pelos eclesiásticos e pelos catedráticos em momentos solenes) e a borla (ornamento de onde pendem fios em forma de campânula; pode chamar-se também barrete; grau ou insígnia de doutor; os catedráticos são complicados e não querem ter dois barretes eh, eh…). Depois vinham os lentes e os doutores, dois a dois, segundo as suas precedências e antiguidades. Nenhuma outra pessoa que não levasse insígnias podia incorporar-se no cortejo.
SALA DO SENADO

Só tentei esclarecer as dúvidas acerca da existência de capelo, barrete e borla nos atos solenes da Universidade de Coimbra, eu própria estava confusa, e o porquê da existência dos mesmos, a sua origem, assim como do trajo dos alunos da mesma Universidade.(A pedido de uma leitora do blogue. Espero que tenha feito esclarecimento adequado. obrigada por ler este blogue).
Jinhos

Fontes: MEMORIA PROFESSORUM UNIVERSITATISCONIMBRIGESIS 1772-1937; VOL II Arquivo da Universidade de Coimbra
A UNIVERSIDADE DE COIMBRA, MARCOS DA SUA HISTÓRIA;MANUEL AUGUSTO RODRIGUES; Arquivo da Universidade de Coimbra  

Coimbra julho de 2013

Carminda Neves (Aluna da Aposénior Universidade sénior de Coimbra)  

 

 

             

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