rochas em Portugal |
Os biólogos têm feito toda a casta de suposições. Parece, contudo, haver acordo geral quanto à hipótese de que a vida começou em água tépida e soalheira, possivelmente nos charcos e lagunas espalhadas ao longo das costas dos primeiros mares. A princípio, talvez, algo de informe como uma gelatina, um lodo ou alguma espécie de sub-vida que, lenta e imperceptivelmente, evoluiu até assumir as qualidades específicas da vida. Sobre nenhuma parte da terra se encontram presentemente as condições especiais, físicas e químicas, dentro das quais a vida pode, concebívelmente, haver surgido. Não se verifica presentemente nenhum novo começo de vida. Mas, com matéria inorgânica, pode obter-se algo como limos e camadas gelatinosas que parodiam, pálidamente, a estrutura e mesmo o desenvolver-se, o crescer das coisas vivas.
Como o começo da vida foi, porém, um processo natural, algum dia provavelmente, será possível ao homem de ciência imitar e repetir o processo, Até que isto se consiga, o problema permanecerá, necessariamente, um problema especulativo.
A atmosfera era extremamente densa nos dias do começo da vida: grandes massas de nuvens obscureciam continuamente o sol, tempestades frequentes enegreciam os céus. A Terra desses tempos, sacudida por violentas forças vulcânicas, era uma terra estéril, sem vegetação e sem solo. Varriam-na aguaceiros quase incessantes, ribeirões e torrentes arrastavam grandes cargas de sedimentos e areia para os mares, onde se transformavam em lama, que endurecia depois em argilas, rochas e pedras arenosas.
Os geólogos têm estudado a acumulação desses sedimentos, conforme se acham hoje, desde os mais primitivos até aos mais recentes.
Encontram-se essas primeiras rochas sedimentares aflorando ainda, aqui e ali, à superfície da terra, seja por não terem sido recobertas por estratos superiores, seja por terem ficado novamente desnudadas, depois de sepultadas por tempos imemoriais, graças à erosão das rochas que as revestiam. Há, especialmente no Canadá, grandes superfícies dessas rochas à mostra. E apresentam-se sempre partidas e dobradas, parcialmente refundidas, recristalizadas, endurecidas e comprimidas, porem reconhecíveis ainda.
Período Paleozóico Primitivo |
Como porém, se encontram nessas primitivas rochas sedimentares uma substância chamada grafite (chumbo negro) e também um óxido de ferro vermelho e preto, para cuja constituição se afirma ser necessária a actividade de seres vivos, o que pode ser ou não o caso, alguns geólogos preferem chamar-lhes arqueozóicas (com vida primária). Admitem que a vida a princípio tomou a forma de simples matéria viscosa viva, em organismos revestidos de revestimento duro, ou esqueleto, ou qualquer estrutura capaz de se transformar em fóssil.Sobrepondo-se e cobrindo essas rochas azóicas, acham-se outras, também muito antigas e gastas, mas que contêm traços de vida. Esta segunda série de rochas, chamadas proterozóicas(do começo da vida), marca uma longa idade da História do Mundo.
Revestindo as rochas proterozóicas, uma terceira série de rochas, nas quais é considerável o número e variedade de traços de coisas vivas: mariscos, caranguejos, vermes, ervas marinhas, peixes, e por fim, os primeiros vestígios de plantas e animais terrestres. Estas rochas chamam-se rochas paleozóicas (vida antiga). Registam uma extensa era, durante a qual a vida se foi, vagarosamente, espalhando, aumentando e desenvolvendo nos mares do nosso mundo.
Primeiros amfíbios paleozóicos |
As marcas, os fósseis e as próprias rochas constituem os primeiros documentos históricos.
A História da vida que o homem tem conseguido decifrar, por intermédio desses documentos é a História das Rochas.
Mas quando chamamos às rochas e aos fósseis um registo histórico, não se deve supor que haja neles algo que lembre a conservação ordenada de um registo. A verdade é que tudo o que acontece deixa qualquer vestígio, contanto que sejamos suficientemente inteligentes para lhe descobrirmos o significado.
Herbert George Wells 1943 |
Fonte: WELLS H.G.
"The outline of History: Being a Plain History of Life and Mankind
1º volume; págs: (20-36) Edição livros do Brasil, Lisboa
Coimbra, julho de 2011
Carminda neves
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