Num mundo que nem sempre
valorizou a contribuição feminina, algumas mulheres assinalaram a diferença.
Enfrentaram preconceitos, combateram a descriminação.
Da política à ciência, passando pelas
artes, elas andam a mudar o mundo desde o início dos tempos. O reconhecimento
porém só começa a emergir no século XIX, com a primeira vaga da emancipação da
mulher.
PELO DIREITO DE VOTO
Kate Sheppard |
Uma das maiores batalhas
femininas foi travada pelo direito de voto que, em todo o mundo, gerou vários
movimentos. U m dos primeiros foi liderado pela britânica Kate Sheppard (1847-1934)
e levou a que, em 1893, a Nova Zelândia se tornasse o primeiro país a garantir
o sufrágio universal.
Em Portugal: A primeira lei eleitoral da
República Portuguesa reconhecia o direito de votar aos «cidadãos portugueses
com mais de 21 anos, que soubessem ler e escrever e fossem chefes de família».
Carolina Beatriz Ângela |
Carolina Beatriz Ângelo (1878-1911)
viu nesta redação da lei a oportunidade de a subverter a seu favor, dado que,
gramaticalmente, o plural masculino das palavras inclui o masculino e o feminino.
Viúva e com uma filha menor a cargo, com mais de 21 anos e instruída, dirigiu,
ao presidente da comissão recenseadora do 2º bairro de Lisboa um requerimento
no sentido de o seu nome «ser incluído no novo recenseamento eleitoral a que
tem de proceder-se». A pretensão foi indeferida pela comissão recenseadora, o
que a levou a apresentar recurso em tribunal, argumentando que a lei não
excluía expressamente as mulheres. A 28 de Abril de 1911, o juiz João Baptista
de Castro proferia a sentença que ficaria para a História: «Excluir a mulher
(…) só por ser mulher (…) é simplesmente absurdo e iníquo e em oposição com as
próprias ideias da democracia e justiça proclamadas pelo partido republicano.
(…) Onde a lei não distingue, não pode o julgador distinguir (…) e mando que a
reclamante seja incluída no recenseamento eleitoral. Assim, a 28 de Maio de
1911, nas eleições para a Assembleia Constituinte, Carolina Beatriz Ângelo
tornou-se a primeira mulher portuguesa a exercer o direito de voto. Não sem um
pequeno incidente, que a mesma relatou ao jornal A Capital: «No final da
primeira chamada, o presidente da assembleia de voto, Sr. Constâncio de
Oliveira, consultou a mesa sobre se deveria ou não aceitar o meu voto, consulta
na verdade extravagante, porquanto, estando recenseada em virtude duma sentença
judicial, a mesma não tinha competência para se intrometer no assunto».
O seu gesto teria como consequência
imediata um retrocesso na lei: o Código Eleitoral de 1913 determinava que «são
eleitores de cargos legislativos os cidadãos portugueses do sexo masculino
maiores de 21 anos ou que completem essa idade até ao termo das operações de
recenseamento, que estejam no pleno gozo dos seus direitos civis e políticos,
saibam ler e escrever português, residam no território da República
Portuguesa». Morreu nesse mesmo ano a 3 de outubro de problemas cardíacos com
apenas 33 anos.
Susan B. Anthony (1820-1906)
começou por destacar-se no movimento pelos direitos das mulheres nos E.U.A..
Criança precoce, começou a ler e a escrever aos 3 anos. Aos 52 foi presa por se
ter atrevido a votar nas eleições presidenciais norte - americanas. Acabou por
se tornar na Iª mulher a merecer um retrato numa moeda em circulação nos E.U.A.
Infelizmente, não viveu para assistir à vitória. O direito de voto feminino nos
E.U.A. foi consagrado em 1920. No mesmo período, na Europa, ficaram conhecidos
em todo o mundo os movimentos das suffragettes. Entre estas mulheres
de coragem, destacou-se a inglesa Emmeline Pankhurst (1858 -1928).
Dedicou-se à defesa dos diretos femininos, mas não beneficiou do resultado da
sua árdua batalha. Morreu três semanas antes da aprovação da lei que concedeu o
voto às mulheres com idade superior a 21 anos no Reino Unido (1928)
PELA
CIÊNCIA
Marie Curie (1867-1934)
desenvolveu investigações que moldaram o mundo para como hoje o conhecemos.
Marie Curie |
Nasceu na Polónia, Maria
Salomea Skfodowska, naturalizou-se francesa e Curie por casamento. Foi a Iª
mulher a receber um prémio Nobel e foi até hoje, a única pessoa a ganhá-lo em
duas categorias: Física (1903) pela investigação revolucionária sobre radioatividade,
e Química (1911) pela descoberta dos elementos rádio e polónio (este ultimo,
batizou-o honrando p país natal)
Aquela que foi a Iª professora
na Universidade de Paris, comprometeu-se cedo com a ciência e por ela deu,
literalmente, a vida. Em 1934, cedeu a uma anemia aplástica provocada pela
exposição à radiação e tornou-se a Iª mulher a ser sepultada no Panteão
Nacional de França.
Amalie Noether (1882 –
1935), a alemã que Albert Einstein considerou “a mulher mais importante na
história da Matemática”. Educada para ser pianista e professora de línguas,
ficará na História pelas suas contribuições no campo da Física teórica e
álgebra abstrata.
PELA IGUALDADE
Helen Keller |
Helen keller (1880 – 1968). Norte-americana ficou cega e surda aos 19 meses, o que
não a impediu de se tornar uma célebre escritora e filósofa. Foi a Iª mulher a
obter um bacharelato nas suas condições, provando que as carências sensoriais
não impedem o sucesso. Ficou conhecida por devotar a sua vida aos outros. Legou
ao mundo o centro Helen Keller, ma das principais organizações sem fins
lucrativos, dedicada à prevenção contra a cegueira e subnutrição.
Rosa Parks |
Rosa Parks (1913 – 2005). Ativista afro-americana que o congresso dos Estados
Unidos designou como “a Iª senhora dos direitos civis”. É ainda hoje lembrado o
dia em que recusou ceder o seu lugar num autocarro a um passageiro “branco” em
Montgomery, Alabama. Este ato de desobediência contra a segregação racial, que
culminou com a sua prisão e deu origem a um boicote aos autocarros da cidade,
constituiu o símbolo do movimento moderno pelos direitos civis nos E.U.A. Mais
tarde liderado poe Martim Luther King.
Rosa Parks morreu em 2005 e foi
a Iª mulher cujos restos mortais estiveram em Câmara ardente no Capitólio
norte- americano.
PELA INDEPENDÊNCIA
Helena Rubinstein |
Helena Rubinstein (1870-1965) polaca, criou um império a partir do nada. Emigrou para a
Austrália, em 1902, sem dinheiro e pouco inglês, criou uma das primeiras
empresas de cosméticos do mundo, com produtos que misturavam a gordura da lã
das ovelhas, com flores de cheiro. Dez anos depois possuía uma cadeia de lojas internacional
e converteu-se na Iª milionária a seu próprio mérito.
Antónia Adelaide Ferreira (1811-1896). Mais
conhecida por Ferreirinha, esta empresária, que ficou viúva aos 33 anos,
dedicou-se à produção de Vinho do Porto e destacou-se pelas notáveis inovações
que introduziu no processo de cultivo.
Ferreirinha |
Ferreirinha lutou contra a
falta de apoios dos governos e enfrentou as doenças da vinha. Em 1849 a sua
produção de vinícola era já de 700 pipas de vinho. Quando faleceu em1896 deixou
uma fortuna considerável e perto de 30 quintas.
É sempre ingrato listar as mulheres, que ao longo da História e na sua
época se destacaram por feitos importantes. No entanto, a memória encarregou-se
de fazer perdurar alguns nomes que, pelo exemplo ou simbologia, representam os
milhares que ao longo dos tempos se recusaram a ser diminuídas em função do seu
Género.
Fonte: Jornal o Público
Wikipédia, a enciclopédia livre.
Abril de 2014
Carminda Neves
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