O ORIENTE, PIRRO, OS MÉGARICOS
O nascimento da filosofia, na
Grécia, é um acontecimento absolutamente original na história do homem. A
novidade sem precedentes está nessa procurada verdade que é a Epistéme,
ou seja, a dimensão irrefutável na qual se manifesta a totalidade do ente. É nesse sentido pleno da verdade e do ente que não se encontra nas grandes formas da sabedoria que no Oriente,
precedem a filosofia grega (sobretudo os Veda e as partes mais antigas do Antigo Testamento) ou que são
contemporâneas do nascimento da filosofia (como o Budismo na India, Lao-tsé e
Confúcio na China, Zaratustra no Irão).
Mas tudo isto não significa também que a filosofia grega não mantenha e
desde as suas origens e desde as suas origens, relações com a sabedoria
oriental. A relação crítica da filosofia com o mundo não se esgota na relação
com o mito grego. Mais ainda, as grandes formas religiosas do Oriente fazem
sentir a sua presença no próprio conteúdo da filosofia grega. Foram por
exemplo, salientadas as convergências entre o Pensamento de Parménides e os Veda
(ou seja que se encontram na base do bramanismo, do hinduísmo e do
budismo). Em ambos os casos, o mundo é considerado como uma ilusão
relativamente à absoluta simplicidade do Uno. Mas o Uno de Parménides é o Ser,
sendo Parménides que pela primeira vez salienta o sentido explícito do Ser e
do nada,
pelo que a consonância entre Parménides e o pensamento Oriental continua a ser
uma analogia cheia de ambiguidades.
Na segunda metade do século IV a.
C., Alexandre atinge a Índia. A partir desse momento, o pensamento e a
civilização do Oriente não mais crescem independentemente das categorias do
pensamento grego. A expedição de Alexandre é a prefiguração do domínio que a
civilização ocidental hoje estendeu a todo o planeta.
Mas é também verdade que a
expedição de Alexandre fomenta, como nunca antes se verificara, a presença do
Oriente no mundo grego (e portanto a captação do Oriente por parte da
civilização grega). Pirro de Elis, considerado o fundador do ceticismo, toma
parte na expedição de Alexandre ao Oriente. E em Pirro a sabedoria védica
une-se ao pensamento de Parménides. Um encontro que volta a propor uma vez mais
essa escola megárica (ou seja, essa síntese que os megáricos estabeleceram
entre Parménides e Sócrates), com a qual Platão e Aristóteles se haviam
empenhado a fundo. Isto significa que Pirro, tal como Cícero salienta, não é o
pai do ceticismo, embora tenha sido considerado tal pelos autênticos céticos,
alguns dos quais (Enesidemo e Sexto Empírico) vários séculos posteriores a Pirro.
FONTE: A FILOSOSIA ANTIGA; Emanuele Severino.
Edições 70 1984; capitulo XI
COIMBRA, NOVEMBRO DE2018
Carminda Neves
Sem comentários:
Enviar um comentário